Por que o fast fashion e sustentabilidade não podem andar juntos?

Tempo de leitura: 5 minutos

O que você faz com suas roupas quando você não as quer ou não lhe servem mais? Doa? Vende? Joga fora? Grande parte das roupas das quais já abrimos mão em nossas vidas, mais cedo ou mais tarde, foram parar em aterros e lixões . Acredite, esse é só um dos problemas quando falamos de fast fashion.

Fashion Revolution

Em 2013, surgiu o movimento chamado Fashion Revolution (Revolução da Moda), que foi criado por um conselho  global de líderes da indústria da moda sustentável. Ele tem o objetivo de conscientizar a população sobre os impactos ambientais e sociais preocupantes da moda como é praticada hoje em dia. Esse movimento, que acontece em várias cidades do mundo desde 2013, promove palestras, oficinas, rodas de conversa e exibição de filmes, em grande parte com acesso livre e gratuito para a população.

Como esse movimento surgiu?

O movimento surgiu depois do desabamento do edifício Rana Plaza, nos arredores de Daca, capital de Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013. O “acidente” (se é que pode ser chamado assim) deixou 1.133 mortos e 2.500 feridos. Como exibido nos documentários The True Cost e Made in Bangladesh, o edifício Rana Plaza, de oito andares, abrigava milhares de trabalhadores da indústria têxtil, que produziam roupas para grandes marcas de fast fashion ocidentais. O edifício, que encontrava-se com rachaduras e risco eminente de desabamento, recebeu uma ordem de evacuação. O dono do prédio ignorou a ordem e forçou os empregados a retornarem ao trabalho. O prédio desabou no dia seguinte à ordem de evacuação ignorada.

Impactos do fast fashion: edifício Rana Plaza após desabamento. O acidente causou a morte de 1133 pessoas e ferimentos em 2500
Foto: edifício Rana Plaza após desabamento. O acidente causou a morte de 1133 pessoas e ferimentos em 2500 (A.M. AHAD)

A tragédia do Rana Plaza chamou a atenção do mundo para o que estava acontecendo em Bangladesh. Na década anterior à tragédia, centenas de pessoas já haviam morrido em incêndios e colapsos de fábricas no país.

Somados aos impactos sociais, a produção de roupas para fast fashion traz inúmeros impactos ambientais para vários países de terceiro mundo, onde legislações ambientais e trabalhistas, quando existem, nem sempre são obedecidas. 

Impactos sociais do fast fashion

  • A cultura do Fast Fashion (Moda Rápida) transformou roupas, bens produzidos para terem longa duração, em produtos descartáveis, dos quais nos desfazemos, muitas vezes, sem nem mesmo usar! Baixíssimos preços são colocados nessas roupas para incentivar seu consumo compulsivo, assim como seu descarte. Uma loja de fast fashion pode lançar até 52 coleções ao ano, com produtos novos chegando toda semana. 
  • A cobrança das empresas de fast fashion sobre os donos de indústrias de países de terceiro mundo por custos de produção cada vez mais baixos faz com que as pessoas que as produzem (como as que morreram no Rana Plaza) recebam baixíssimos salários e sejam submetidas a regimes de trabalho abusivos. Tudo isso para que os preços dos produtos sejam reduzidos cada vez mais.
  • A indústria de moda global é uma indústria anual de quase três trilhões de dólares. As pessoas que confeccionam essas roupas em países como China e Bangladesh recebem, em média, 2 dólares por dia de trabalho.
  • A maior exportadora de roupas do mundo é a China, seguida por Bangladesh.
  • As indústrias de fabricação de roupas nesses países são chamadas de Sweatshops, ou seja, Fábricas de Suor em português! Recebem esse nome por serem indústrias que não obedecem leis trabalhistas, empregam crianças e mantém os trabalhadores em condições insalubres de trabalho.
  • 85% dos trabalhadores nessas indústrias de roupas são mulheres.
  • Várias empresas aqui no Brasil, muitas delas de luxo, já foram autuadas por submeterem seus trabalhadores a regimes de trabalho análogos à de escravo, como estas aqui, esta redealém desta e esta também.

Impactos ambientais do fast fashion

  • O mundo consome, atualmente, cerca de 80 bilhões de novas peças de roupa todos os anos , o que é mais que 400% do que foi consumido há apenas duas décadas atrás!
  • Um americano joga fora, em média, 37 Kg de roupas por ano!
  • De acordo com a Re-Roupa, no Brasil, cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis são descartados todos os anos, das quais 85%  têm como destino aterros e lixões.
  • A medida que nosso apetite por roupas cresce, as plantações de algodão estão se modificando. Mais de 90% do algodão produzido hoje em dia é geneticamente modificado. O aumento das plantações demanda um consumo cada vez maior de água e pesticidas.
  • A região de Punjab, na Índia, é uma das grandes produtoras de algodão do país e também maior usuária de pesticidas. O número de crianças que que nasceram com defeitos congênitos, cânceres e doenças mentais cresceu exponencialmente nos últimos anos.
  • A produção de couro para a moda também traz uma série de problemas para o meio ambiente devido a quantidade de terras, água, alimento e combustíveis fósseis (recursos não renováveis) que a produção de gado demanda.
  • O processo usado para curtir o couro também é um dos mais tóxicos de toda  cadeia da moda. Trabalhadores, normalmente, são expostos às substâncias químicas sem equipamentos de segurança e os resíduos produzidos no processo são despejados nos rios sem tratamento prévio, contaminando as águas e matando animais aquáticos.

Fast fashion e sustentabilidade podem andar juntos?

Através da moda, expressamos nossa personalidade, gostos e nos comunicamos com o mundo e, por iss0, ela é muito importante. Porém, o modelo de moda mais difundido atualmente, o fast fashion, que lança 52 coleções ao ano, incentiva o consumo e o descarte compulsivos de roupas e coloca preços cada vez mais baixos nelas à custa dos salários e direitos trabalhistas de quem as produz não é um modelo de moda sustentável.

O que podemos fazer?

Repense e reduza

Repensar e reduzir o consumo de roupas é a alternativa mais eficaz para combater o fast fashion pois, se 52 coleções estão sendo produzidas por ano, é porque nós estamos consumindo elas. Mas, quando somos constantemente bombardeados e bombardeadas com propagandas que nos levam a pensar que nosso valor está associado à quantidade de bens que possuímos, repensar e reduzir pode ser bem mais difícil na prática! O importante é estarmos alertas para, sempre que possível, combatermos essa sensação que muitas propagandas nos fazem ter, de que seremos mais felizes ou teremos mais valor se comprarmos o produto que estão anunciando.

Conheça seu estilo

Muitas pessoas têm uma quantidade enorme de roupas no armário e estão constantemente sentindo que não tem o que usar. Isso pode acontecer porque, como recebemos tanta informação de tantas estações lançadas por ano, acabamos comprando coisas que nem mesmo representam nossos gostos e nosso estilo. Por isso não as usamos, porque as roupas estavam lindas nas propagandas e modelos, mas não nos sentimos nós mesmas nelas.

A Thaís Farage, fundadora da Farage Inc, e sua equipe de consultoras de moda estão sempre lançando conteúdos gratuitos e pagos para ensinar mulheres a conhecerem seu estilo e fazerem escolhas conscientes de roupas. 

Compre de segunda mão, alugue ou customize!

Que tal usar roupas que já estão por aí precisando de novos donos ou formas de usar? Neste post aqui, falei um pouco sobre brechós e guarda roupas compartilhados e neste aqui falei sobre customização. Essas são minhas formas preferidas de consumo de roupas!

Dê preferência para o slow fashion

Existem outros modelos de moda se difundindo atualmente, como o Slow Fashion, que buscam uma produção mais sustentável, ecologicamente correta e socialmente justa. Falei um poco desse movimento aqui.

Conhece o Moda Livre?

Uma ferramenta legal que pode ser nossa aliada para um consumo mais consciente é o aplicativo Moda Livre, criado pelo coletivo Repórter Brasil.

Ele está disponível para Android e iOS e avalia grandes marcas quanto ás medidas que elas têm tomado para evitar que suas roupas sejam produzidas por mão de obra escrava. A partir dessas medidas, é gerada uma pontuação para essas empresas no aplicativo, no qual elas podem ser classificadas em três categorias de cores: verde (melhor avaliação), amarelo (avaliação intermediária) e vermelha (pior avaliação). Vale a penas conferir!

O aplicativo moda livre avalia marcas da moda em relação ao trabalho escravo, muito comum, especialmente em marcas de fast fashion
Imagem: aplicativo Moda Livre (www.lilianpacce.com.br)

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